quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Luto, luto indigente

O retrato velho está desbotado
Mais um pouco se apaga
E quem vai sentir falta?
Quem vai sentir saudades?
Quanto dói esse desaparecer?

A imagem está desfocada
Mais um pouco afastada
E quem vai corrigir?
Com Bombril antena cobrir
No exato momento que importa
No momento coração ainda toca
Um tambor vigoroso e ritmado
E só quer estar ao lado
De quem quer ouvir

O som está abafado
Mais um pouco se cala
Nem toma conta da sala
Nem é ouvido por ouvidos
É onda que já quebrou
Silêncio foi o que restou
Vazio é o resultado

A existência está condenada
A dor que dilacerava
Dilacera sem compaixão
Ver-se invisível, então
Dói mais quando é bem na frente
De quem olha e não vê a gente
Transpassa o nosso ser transparente
Esmaga o peito e a mente
As forças estão indo embora
Quando for tarde, não chora
Escolhestes cada detalhe
Lutastes cada batalha
E por aí as migalhas
São só efeitos colaterais
É só deixar para depois
A existência condenada
Só serve pra ser usada
Enquanto aguenta calada.

No dia que acontecer
O luto será por segundos
Vencido por outros sentimentos
Por quem recebe valor
Por quem está sendo cuidado
O ego, os outros, amados
Dia após dia da vida
Antes do luto, ferida
Ferido é o seu nome
O luto mais um sobrenome
Do indigente esquecido.

Francisco Braz Neto (08/01/2020)









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Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.