sábado, 14 de novembro de 2020

Os Ouvidos ambulantes.

 Título.

O título poderia ser enorme, já um texto inteiro. O Ouvido ambulante, os Olhos itinerantes e as estórias que presenciam.

E foi ontem, comparando ao dia que está sendo escrito o texto. Foi mesmo uma sexta-feira 13. Dia 13 de novembro de 2020. O ano da pandemia mundial e o mesmo ano de muita chuva no sertão.

É muito do mesmo. Uma mensageira do presente com muitos anos vividos me fala das desventuras que tornam seus dias um tormento. E enquanto me contava aqui e alí molhava a face.

E contava de quando tinha casa cheia. Cheia de gente, cheia de vida, cheia de vidas e quase todas ingratas. Era casa cheia enquanto ela teve comida e bebida para oferecer. Talvez quando ela tinha jovialidade também tenha experimentado muita oferta de companhia e igualmente quando teve beleza ou seja qual atrativo possa ser citado.

 Mas quando e onde ela estava nas aulas da vida? Ela não sabia que, se tivesse vida longa, dificilmente não descobriria que muita gente nas vidas de cada um de nós só está perto para aproveitar algo que tenhamos a oferecer?

Eu não cito nomes. Não vou citar. Pode ser que alguém queira dizer que é apenas uma imaginação minha, apenas do "fantástico mundo de Francisco", esse mundo ilusório. Algumas coisas só são verdadeiras para quem vive o bastante para ter a experiência por si mesmo. Não possuem a capacidade ou o interesse em observar vidas e exemplos dos mais experientes.

E o Ouvido ouviu. E os Ouvidos ouviram. São ambulantes. São itinerantes. Ouviram lamúrias e estórias de uma tristeza profunda. E olhos foram forçados a produzir um tipo de H2O, uma variação conhecida desde o nascimento: - bate no bebê para ele produzir algo que ele produzirá um tanto mais na vida.

E os Olhos tão parceiros dos Ouvidos tiveram que receber ordens de se conterem. Esses Olhos já estão acostumados a guardar gotas para momentos em que só estejam o esquerdo em companhia do direito e nessa circunstância podem desaguar.

E a memória traz o mensageiro do futuro e o muro, traz a senhora que por anos apanhava do marido, traz a moça abusada sexualmente desde muito nova, traz uma avalanche, uma carga, um soterramento, uma dificuldade de respirar, uma sensação de peso físico nos ombros de estórias molhadas e até algumas secas da parte de quem contava, mas que não iludem os Ouvidos ambulantes nem passam despercebidas. 

Parece que a pessoa levou um corte e conseguiu fazer um transplante deste corte. Como pode? 

Como pode a perpetuação tão repetitiva de mesmíssimas estórias? Lembro de outras e mais outras pessoas e suas estórias de casa cheia pois tinham dinheiro e davam festas. Por que não fazem apologia a visitas pelo simples fato de neste lugar ter alguém com quem você se importa?

Por que não fazem apologia a visitas pelo simples fato de neste lugar ter alguém com quem você se importa?

Outra questão é que se você passou a vida toda recebendo visitas não aprendeu que as pessoas também podem se ressentir de você não ter feito o movimento oposto.

Será que o mundo todo tem que ir até você? Aí um dia, com olhos que se molham a cada 15 minutos, você percebe que praticou um venham a mim e ao reino dos outros nunca.

E é essa mais uma questão. E é essa mais uma reflexão.

Os Ouvidos ambulantes e seus parceiros Olhos, juntamente com a Boca e todo um Extra Terrestre que vaga por aí sentiu uma vontade de consertar o mundo e viu como é impotente. 

De novo. Já não tão novo.


Francisco Braz Neto (14/11/2020)

Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.