quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Diário trinta 30

É trinta.
Dia 30 de janeiro de 2020.
Diário, meu diário.
Acordei cedo, quase não dormi de ontem para hoje.
Hoje seria um dia para celebrar, pois é 30.
Trinta comemorações vezes 30, vezes 300 e até o último suspiro.
Tentei.
Perdi.

Por um tempo que desconheço seguirei perdido.
Por onde vou?
Onde chegarei?
Quando chegarei?
Estou sem respostas.
Me concentro em achar um caminho com as forças que me restam.

Diário! É trinta de janeiro de 2020.
Seria para celebrar, mas não é.
É dia de nadar.
É dia de respirar.
É dia.
Sem remédios.
São 30 dias somados a tantos outros e somados formam anos que quem sabe não deveria provocar mais.
Quem sabe não deveria provocar mais.
Água.
No rosto.
Água.
Na face.
Água.
Dos olhos.
Água.
Tão abundante.

É, são 24 horas de 30.
Até a meia noite.
O único dia que coincide com a quantidade de dias.
No dia 30, são trinta dias em 2020 só.
Muita água.
Em dias de sol, céu azul e mesmo assim água.

Eu poderia ter esquecido que dia era hoje, mas lembrei.
É, eu poderia ter esquecido que dia seria hoje, porém lembrei.
Por trinta vezes trinta vezes trinta me veio a cabeça, não tenho remédios.
Agora mãos invisíveis apertam o meu coração. Por quantas vezes? Não sei.
Outras datas, outros números, são importantes.
Por que tem que ser assim?
Uma dor 30 vezes maior.
Será?
Não inventaram medidores de dor.
Não inventaram medidores de sensibilidade a dor.
Até o dia 30, não.
Vou escrever no diário. Vou escrever na agenda.
Na página em branco do dia 30.

Francisco Braz Neto (30/01/2020)









sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Semear e colher

Se chorei ou sorri?
Sim, chorei.
Sim, sorri.
Mas sorrir nem sempre é alegria
Chorar nem sempre é tristeza
Não é só viver de emoções que importa
Importa com quais emoções mais se vive.

Admitir que chorei é fraqueza?
Não faça arrodeios.
Faço mais!
Eu admito fraquezas.
No mundo de tantos perfeitos
Sou defeitos.
No mundo de tantos certos
Sou errado.
E o que importa?
Importa o motivo do choro mais que o choro em si.
O choro de extrema felicidade, extrema emoção ao abraçar quem se ama, ver uma grande realização de quem queremos feliz e coisas boas de uma forma geral, desse choro pode ser toda semana. Pode ser em público, pode ser registrado, pode ganhar o mundo.
O choro da perda, da vergonha, do arrependimento, da solidão, do desespero, da desilusão e coisas ruins de uma forma geral, desse choro não quero nunca. Mas é inevitável, então que não seja em público, que não se registre e que seja no ombro, no colo, nos olhos de quem me ame.

E os sorrisos?
Do engraçado, do divertido, da boa nova, pelo sucesso e por tudo que é bom.
E o que importa?
O motivo importa.
Sorrisos não são tão óbvios
Sorrisos são sortidos
E alguns são só para deixar tudo como está.
E alguns são só para deixar todos como estão.
É só por fora
Dentro, escuridão.

Quando fiz sorrir querendo, em mim plantei existência
Quando ofereci ombro querendo, em mim plantei persistência
Quando ofereci ouvidos querendo, em mim plantei coerência
Quando ofereci lealdade querendo, em mim plantei transparência
Quando ofereci amor querendo, em mim plantei minha essência.

Se chorei ou sorri?
E o que importa?
Quem se importa?
Quem se importa com o seu choro?
Com o meu, eu sei quem.
Com o meu, eu sei como.
É sempre bom lembrar quem se importa com o choro, com o sorriso e com todas as emoções que experimentamos ao longo da vida.
É bom lembrar como se importam.
Quem e como.
É bom saber.
É bom lembrar.

Há fases da vida que se espera colheita, não é possível viver só semeando.
É bom chegar em um equilíbrio.
Plantar e colher equilibrado.
E desequilíbrio em alguns outros pontos.
Ganhar e perder com vantagens amplas para o ganhar.
Sorrir e chorar com ampla vantagem dos sorrisos com auxílio de choros de alegria.
É um desejo.
É uma vontade.
Que seja para todos os merecedores.

Francisco Braz Neto (24/01/202











terça-feira, 21 de janeiro de 2020

E se

E se for verdade

E se tiver sido verdade

O dia existiu.
As palavras foram ditas.
Quem as disse não achava que era apenas um momento.

E se o dia existiu
E se as palavras foram ditas
E quem disse acha que é e sempre será

Sem se.
Só certezas.
Sou carinho
Sou ombro
Sou ouvidos
Sou abraços
Sou calma
Sou consolo
E tudo sou por sempre ter sido
Quando pude
Mesmo perdido
Por fora ofereço um sorriso
Até quando sangrando e destruído.
E tudo precisa ser repetido.

Se for verdade
Sou bom conselho
Palavra sincera
Que ajuda e coopera
Conversa sem pressa
Afaga e serena
Remédio da crise
Segurança no pânico
Que até ao telefone
Enxuga lágrima e altera
A energia mental
Problema é que passa mal
Se isso for mesmo verdade
Essa será a minha vaidade
Servir, servir à amizade.

E se foi verdade ouvi
Sou até inteligente
Profissional competente
Poeta e Pai excelente
E assim pretendo seguir
Carente eu sou de ouvir
Que ainda valho a pena
E a vida só fica bela
Quando todo amor que há em mim
Produz momentos capazes
De mais sorrisos causar
Em quem sorrisos me trazem.

Francisco Braz Neto (21/01/2020)











Para maiores de idade

Sou sexo made
Não sou hand made
Sou produto nacional
Made in Braszil
Sou século XX
Sou safra 1978
Sou mesmo esse animal.

Sou Pedra
Sou raiz
Sou Pernambuco
Sou mundo
E bem profundo.

Sou sexo feito
Amor desnudado
Vergonha na cara
Dos erros errados
Do tempo que é meu
Do meu contemporâneo
De quem é conterrâneo
E diz fez sexo, fodeu.

Sou pré servativo
Sou pós DSTs
Sou muito mais fricção
E muito sangue nas veias
Aquela que incendeia
Recebe o nome tesão
Na boca palavras de lava
Nas coxas sofreguidão
É sem hora marcada
Produto de exportação
O sangue todo bombeado
Caverna, casa de dragão
Cuspindo o fogo espalhado
Cansados estão, com razão.

Em bocas sussurros malvados
Em peles arrepios sem fim
Os nomes mais censurados
Ditos sem achar ruim
Temperos de apaixonados
Termos de botequim.

Os cromossomos combinados
Um macho total explosão
Sentindo falta da sua calma
Respira e arfa em vão
O cheiro que antes trocavam
São cheiros de solidão
Mesmo maiores de idade
Separam e soltam a mão.

Francisco Braz Neto (21/01/2020)






Pedaços espalhados

Há dias em que pedaços da gente vão para longe. Os motivos são diversos e muitas vezes não temos qualquer controle sobre esses afastamentos.
Há como buscar consolo ao pensar que é para o bem de quem tanto amamos, o que não significa que não doa muito. É como arrancar alguma parte do corpo, por mais que seja para um bem vai doer e nesse caso é sem anestesia.
Eu vivo uma rotina de idas e vindas, agora as idas e vindas serão para distâncias maiores e por ter mais pedaços de mim espalhados.
Aguentar, seguir em frente. É a vida.
A vida de vocês também é assim, não é?
Quem a gente ama vai embora, uma hora ou outra, de uma forma ou outra, por um motivo ou outro.
Viagens, desentendimentos, morte, carreira profissional, sonhos, acidentes, inícios, fins, etc.
Sempre dói quando quem vai é pedaço de nós e é um pedaço amado.
Dói mente e dói corpo.
Dói o possível e o impossível.
Eu já parti também.
"Me fiz em mil pedaços ... e queria sempre achar explicação para o que eu sentia" Ainda sinto, ainda pulsa, ainda...

Francisco Braz Neto (20/01/2020)


quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Prometeu do século XXI

Roubei o fogo.
Deve ser isso
Entreguei aos homens
Zeus não gostou
Zeus se vingou

Roubei o fogo.
Só pode ser
Entreguei a todos
Zeus me puniu
Estou preso
Acorrentado
Meu mundo caiu
Meu fígado atingiu
E todas as vezes
A Águia faminta
Vem saciar
Uma fome sem fim

Roubei o fogo.
Sem promessas
A Águia vai mudar a dieta
Prometeu é imortal
Eu não chego ao Carnaval
Zeus vingará
Meu erro fatal

Meu fígado se regenera
A Águia vem, dilacera
Seu nome é Vida
Eu sempre a achei atrevida
Não prometo nem choro nem vela.

O Olímpo só assiste
A novela que ainda passa
Depois o canal se disfarça
E vira canal de YouTube
Os Deuses pedindo virtudes
Do mortal em desgraça
O fogo roubado ameaça
A Vida e a vida usada
Por quem pegou sem trapaça
Aquilo que sempre foi seu.

Agora outra bicada
Do bico mais afiado
O fígado não é blindado
A dor é de desmaiar
Todos os dias
Dói até de pensar
Que fogo! Que fogo! Sagrado.
Meu sangue vai apagar.

Francisco Braz Neto (08/01/2020)













Luto, luto indigente

O retrato velho está desbotado
Mais um pouco se apaga
E quem vai sentir falta?
Quem vai sentir saudades?
Quanto dói esse desaparecer?

A imagem está desfocada
Mais um pouco afastada
E quem vai corrigir?
Com Bombril antena cobrir
No exato momento que importa
No momento coração ainda toca
Um tambor vigoroso e ritmado
E só quer estar ao lado
De quem quer ouvir

O som está abafado
Mais um pouco se cala
Nem toma conta da sala
Nem é ouvido por ouvidos
É onda que já quebrou
Silêncio foi o que restou
Vazio é o resultado

A existência está condenada
A dor que dilacerava
Dilacera sem compaixão
Ver-se invisível, então
Dói mais quando é bem na frente
De quem olha e não vê a gente
Transpassa o nosso ser transparente
Esmaga o peito e a mente
As forças estão indo embora
Quando for tarde, não chora
Escolhestes cada detalhe
Lutastes cada batalha
E por aí as migalhas
São só efeitos colaterais
É só deixar para depois
A existência condenada
Só serve pra ser usada
Enquanto aguenta calada.

No dia que acontecer
O luto será por segundos
Vencido por outros sentimentos
Por quem recebe valor
Por quem está sendo cuidado
O ego, os outros, amados
Dia após dia da vida
Antes do luto, ferida
Ferido é o seu nome
O luto mais um sobrenome
Do indigente esquecido.

Francisco Braz Neto (08/01/2020)









Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.