domingo, 30 de julho de 2017

Funcionário público do mês

Estatizar. Privatizar.
Privado. Público.
Serviço. Produto.

Quanto tempo você gastou e ainda pretende gastar refletindo sobre estes assuntos?
O que há de mais repetitivo sobre isso?
Quem conseguiu falar algo novo ou algo antigo por uma perspectiva nova?
Eu vou tentar.
Seria tão bom se eu soubesse de mais universos. Você poderia me contar se para você é diferente. Então, por falta de ter acesso ao universo de cada pessoa, vou levar em consideração o que já li em revistas, livros, jornais e somarei ao que escutei em conversas, em telejornais, documentários, filmes, rádios e vídeos em geral. Somarei a isso minha própria experiência.

Estatizar ou privatizar. Mais ou menos simples.

Deve ser estatizado ou continuar estatal o que se provar eficiente, benéfico, legítimo, útil, funcional e lucrativo, dependendo do caso.

Deve ser privatizado ou permanecer privado o que alguém decide gastar seu tempo e dinheiro para fazer sem que cause danos nem transtornos à pessoas, natureza, propriedades alheias, quer sejam públicas ou privadas e siga todas as leis vigentes. No caso de não haver interessados em adquirir uma estatal que não atendam aos requisitos aqui enumerados a mesma deverá ser extinta e os prejuízos advindos dela serem cobrados de quem a criou. Isto certamente faria com que políticos pensassem mais sobre criar estatais a torto e a direita com finalidades questionáveis.

Isso é o mínimo, é a forma mais resumida de colocar a questão. Destrinchar cada aspecto é que deixa tudo que deveria ser simples cheio problemas. Para falar e refletir sobre eficiência de uma estatal, os benefícios que ela traz, a legitimidade para que ela sequer exista e demais pontos você o faz de forma objetiva ou ideológica? Você admite raciocínios pioneiros ou só os pré moldados?

A minha experiência me mostrou que há uma tentativa de algumas pessoas em colocar a questão das estatais terem que dar lucro, mas a ideologia, pensamento e atitude dominante é de sufocar esta e outras ideias. Não raramente tentam a tática do ridicularizar essas ideias que quebram paradigmas.

E aí eu acho que fácil se chega ao conteúdo de um livro imenso só abordando e defendendo cada uma dessas ideias e com a liberdade de ninguém interromper. Só que aqui eu vou dar uma mudada de foco. Ainda ficarei indo e voltando nas feridas e fronteiras do mundo estatal e das empresas privadas, só que vou mais para o ser humano e suas vaidades.

Talvez, só talvez, você tenha visto textos e mais textos, textões e mais textões de internet, quer no facebook, WhatsApp, Google+, etc, sobre o quanto um desconhecido ou conhecido funcionário público era um funcionário excelente. Lembra disso? Foi na época em que estavam debatendo e votando as questões da aposentadoria e outras reformas. Não vou abordar nada sobre a previdência. Não aqui, não agora. Eu fiquei muito interessado particularmente na quantidade e conteúdo dos textos sobre a vida laboral de cada um. Quem estiver lembrado pode ser que concorde comigo que dentre os textos, muitos eram bem escritos, uma retórica boa e com um apelo emocional forte. Um certo padrão entre eles era mais ou menos assim: "eu comecei a trabalhar muito cedo e estudei muito e passei na faculdade e estudei muito novamente e passei num concurso. Eu sou um funcionário muito bom, trabalho muito, etc,". Não tinha exceção, o funcionário público poderia ser jovem ou com mais idade, da área da segurança pública, da saúde, educação, administração ou outra, sempre, não importasse nenhuma característica que os distinguisse, eram o melhor funcionário que se podia imaginar. Nessa época a modéstia estava deprimida, ninguém lembrava dela.
Aí eu pergunto: nossos serviços públicos são bons?
Nós somos um país com 95% de escolas públicas e 5% de pessoas lutando para entrar em um super concorrida escola pública?
Nossos hospitais são 90% públicos e igualmente é aqui o país em que querer os serviços de saúde privados são coisas raras? Uma pessoa que era pobre e ficou rica usa o nosso maravilhoso sistema de saúde pública ou basta ter o suficiente para um plano de saúde que já providenciam para si e para os seus familiares?
E nossa segurança! Como podemos ver, uma pessoa um pouco mais abastada jamais tem motivos para sequer pensar em carros blindados, não é? Guarda costas sim ou não?
Segurança pública é boa?


Se os funcionários públicos são tão bons como temos serviços tão ruins? Ou você funcionário público que por acaso está lendo isso é o único bom cercado de pessoas que não cumprem horário, faltam, são grossas com os usuários do serviço e demais defeitos?

Meu testemunho. Um momento para dar uma quebra no clima pesado. Eu já tive boas experiências no serviço público, raras, porém preciosas.

Voltemos ao clima mais pesado. Se você se julga um bom funcionário, já lhe ocorreu que você não é o melhor julgador? Quando se trata de trabalho, mais ainda com trabalho com pessoas, é fundamental a avaliação das mesmas. Vou usar a palavra inglesa, você precisa de um feedback. Quero te jogar na cara, por meio virtual, elogios e/ou críticas da forma mais objetiva possível. Você acha que é fácil ser um bom funcionário? O que é que devemos levar em consideração? Olha, eu preciso por tudo na mesa, senão todos que se elogiaram permanecerão empatados como os "perfeitões" os melhores funcionários de todos os tempos. Depois que estiver tudo posto, não me fala que vai melhorar, apenas vai lá e faz melhor. Não apenas um dia, faz dia após dia. Este texto é estanque. Será aqui que teus elogios estarão. Fixos! Não será uma placa de funcionário público do mês, mas há de ter valor.

Vamos lá. 1) Pontualidade. Você é pontual? Sua desculpa pode ser ótima, pode ser que não seja desculpa e sim uma justificativa, mas deixa eu te falar que eu vou desempatar e para quem está precisando dos teus serviços esse atraso pode significar muito. Mais ou menos assim: você é importante, aquela pessoa te aguardando também, entende?
2) Você cumpre horário? Olha, trabalhar mais tempo para compensar não é o mesmo, pelo menos em algumas áreas. Todos os dias pessoas se programam, fazem viagens, combinam de deixar os filhos com alguém, pedem ao chefe para ser liberado um pouco mais cedo, só para chegar naquele compromisso que o site avisou que a repartição estaria aberta. Século XXI, vida corrida, se você não cumpre seu horário e isso é rotina você não pode ficar achando que é um bom funcionário.
3) Você é bom com seus colegas? Com seja lá quem for que trabalhe no mesmo espaço contigo? Deixe-me ver, você é medico, mas não pega um papel no chão do hospital para que todos saiam ganhando, o negócio é deixar que alguém da limpeza venha e se vire. Você é de algum tribunal e igualmente encontra um objeto fora do lugar ou sujo, mas nada faz. Aliás, se eu colocar seja lá quantos exemplos for você fala e procura uma interação com os demais funcionários? Vocês são um time organizado, cooperativo, harmônico e produtivo? Você pelo menos conhece seus colegas? Vou resistir a tentação de desvirtuar o texto sobre os espaços públicos e os cuidados que todos deveriam ter.
5) Você já passou, passa ou passará por alguma avaliação de desempenho desde que assumiu seu cargo? Já conseguiu se imaginar recebendo notas de zero a 10? Ou recebendo carinhas de raiva, que seria para total insatisfação, até carinhas com amplo sorriso sendo total satisfação? Já imaginou você também avaliando a cada vez que estiver utilizando algum serviço público? Poderíamos fazer até com os políticos. Que acha? Seria similar ao que empresas privadas já fazem há muitos anos. Você também precisaria avaliar colegas e ser avaliada pelos mesmos. Quem sabe alguns colegas te dariam feedbacks riquíssimos?
6) Assiduidade. Será que você sabe que no mundo das empresas privadas você só falta se estiver muito mal? Sabe, você sabe sim. Eu também sei da questão dos atestados falsos e etc. Mas esse papo é nosso. Sou eu e você. Eu pensando se você já tinha refletido sobre tudo que escrevi até aqui e mais do que isso, desejando que você seja um funcionário realmente formidável. Se sua vontade é ser de fato o que os outros facilmente se intitularam, há muito que aproveitar deste texto.
7) Produtividade. Você pode ter todas as qualidades anteriores, mas se não faz nada além de ser o legalzão, o pontual, assíduo que enrola, enrola e nada faz, não és e nunca fostes o dono do título. Não estais sequer bem na classificação.
8) Competência. Uma vez precisei de um serviço. Vou arriscar falar de onde, mas torcendo que não seja possível identificar a pessoa e se ela achar que foi ela ela permaneça sem se acusar. Foi no DETRAN. Ao ser atendido a pessoa disse que para fazer o que eu estava precisando iria perguntar para alguém. Não é que você, nem eu, nem essa pessoa deva saber de tudo, a bronca foi o comentário da pessoa em questão: "você sabe, né? Eu estudei e aprendi isso só para passar no concurso.". Depois de falar isso deu uma gargalhada. Bem, no lugar de tudo que escrevi agora, será que ser competente precisa de muita explicação? Dilema? Basta ser competente? Você é o melhor, passou em primeiro lugar no concurso, fez cursos de aperfeiçoamento e tem mais certificados que dez colegas juntos? Lembra de uma coisa que se fala sobre professores? Aquela coisa: "ele sabe muito, mas não sabe transmitir"? Para um professor é fatal! E no seu caso? Competência num pedaço de papel ou que se reverte em resultados para quem precisa de você?
9) Rentabilidade. Você é alguém que agrega ao país? Você precisa ser rentável no seu micro universo. Depois que fez tudo até o item 8 chega e gasta toda a água, o papel, danifica equipamentos, não se preocupa com sustentabilidade nem sequer pensa que deveria se esforçar para tal... Bem; fica difícil ser o melhor. Já pensou quanto você pesa para a sociedade além do salário e benefícios? A gente sabe que políticos definitivamente são funcionários que jamais chegam perto do título de melhor funcionário do mês por serem dos piores nesse requisito. Funcionários do judiciário também não ficam bem nessa hora. Enfim, olhe para todos os funcionários públicos, começando por si mesmo e veja se dá uma mínima atenção à esse novo cálculo. Esse item 9 tem um peso enorme no mundo privado. O setor público tem muito a ganhar com ele.
10) Higiene. Será que precisa mesmo explicar? Que dureza! Quer seja como colega, quer seja como um usuário do serviço, quem não gostaria que além de tudo que já foi dito o funcionário fosse limpo? Não estou falando em exageros. Não precisa de perfumes importados nem viver gastando até o que não tem em produtos de higiene, mas um padrão mínimo deveria ser pré requisito previsto até em lei.

O texto está bem grandinho. Penso que há um tanto de outros pontos que poderiam ser acrescidos, mas como não vejo sequer os que aqui estão sendo debatidos ou que alguma coisa tenha mudado em toda a minha existência, venho ao menos começar, provocar, aguçar e libertar o debate sobre esse tema. O tema em que quem está dentro vê problemas, mas não se vê como parte do problema. O que motivaria essas pessoas a mudarem? Posso estar errado, mas um dos maiores crimes do funcionalismo público, uma das mais nocivas coisas que há se chama estabilidade. O fato de todo um esforço primoroso, louvável, admirável, por vezes exagerado e outras vezes desonesto(concursos fraudados) acabar logo após conseguir ser aprovado e nomeado deixa um resultado no serviço que não recebe os mesmos bons adjetivos.

No dia em que os esforços primorosos, louváveis, admiráveis e por vezes exagerados forem para serem excelentes funcionários públicos e não máquinas de passar em concursos teremos muito para celebrar e placas de funcionário do mês para expor com orgulho.

Francisco Braz Neto(30/07/2017)

Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.