quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Palavras de Pedra

Eu as uso
Atiro
Crio, invento
Arrepio
São apenas palavras
E com elas eu bio
Tão lógico
Balbucio
Atiro aos montes
Copio
E torço para castelos
Cabana, colo e caminho

Há palavras
Há de algodão
Há de Pedra
Há de confusão
Há de alegria
Há de comunhão
Palavras em melodia
Palavras de coração
Há de ser bem entendida
Boa interpretação.

Palavras
Palavras de Pedra
Cidade, estado, nação.
O livro que nunca existiu
Palavras usadas em vão.
De Pedras clichê desgastado
Fiz castelo e pão.

Francisco Braz Neto (28/11/2018)






Tum Tum por Tim Tim

Tum Tum
Onze por oito
Vinte por quinze

Tum Tum Tum Tum Tum Tum Tum Tum
Tummmmm
Tummmmm
Tum dum tchi cum dum
Surdão
Te ouço
Te sinto
Te muito
Te escuto
Castiga o couro
Tum
Tum Tum
Tum Tum
Trinta por vinte
UTI
Calculadora.

Ouvindo o som sem ajuda de aparelhos.
Tum Tum
Ritmo
Lento
Ouvindo vozes
Insônia
Ouvindo vozes da própria mente
De quem não mente
Da mente permanente
Enquanto sente
Até quando demente
Até que semente
Olhos ardentes
Tum Tum
Tum Tum
Insistente
Intermitente

Tum Tum Tum Tum
Taquicardia
Café
Solidão
Errar todo dia
Corpo cansado
Desculpa do dia
Enquanto dorme
Sorria
Lá dentro Tum Tum Tum
Fora, silêncio fazias
Quando seus gritos escapavam
Barulhos sempre abafavam
Dopado dormia
Tum Tum Tum Tum no peito
Era a única melodia
A musica do coração
A que só
Só ouvia

Coragem
Fecha os olhos
Já já outro dia
Se não mais Tum Tum
Não mais poesia

Não textos ruins
Textos de seu Tum Tum
Amassa rascunho
Larga as traças o já acabado
Não deixa nenhum
Extrato do nada
Tum Tum Tum

Tum Tum por Tim Tim
Explica
Se explica
Se complica
Tenta, tenta, tenta
Responde a cuíca
Pandeiro e cavaco
Tum Tum se agita
Oito por seis
Descomplica
Vai passar com remédio
Sua vida, sua vida, sua vida

De resto o fim
Cada um acabado
Mesmo inacabados
Quando não retomados
Ficarão por findados
Sem direito a muleta
Sendo o próprio resto
Conhece sarjeta
Quando não mais Tum Tum
Caixão e vela preta.
Quando não mais Tum Tum
Felicidade perfeita.
Aproveita. Aproveita.

Francisco Braz Neto (28/11/2018)

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Eu não sou dissertação

Não faz assim comigo.
Te peço.
Suplico!

Não sou tratado
Nem teorema
Sou ponto, travessão e trema
Não me leia com pressa
Dispersa
Senta aqui
Conversa

Eu não sou dissertação
Não sou mestrado
Tese de doutorado
Nem mesmo calado
Deixo seu coração

Para de me olhar
Querendo me acabar
À última letra chegar
Me olhe serena
Sou verso e poema
Prosa e dilema
Falando contigo
Sou mais que amigo
Descrevo a cena

Então outra vez
Me revisite
Me re-signifique
Me releia
Me deguste
Decifra-me
Me invada e me deixe te invadir
E eu peço muito mais.
Entendas de uma vez por todas:
Eu não sou dissertação.
Não comes uma caranguejo igual a maneira que tomas sopa
Não bebes cachaça da forma que bebes água
Não viajas de avião da mesma maneira que caminhas
Comes diferente alimentos diferentes
Quer por temperatura, consistência ou circunstância
Bebes diferente bebidas diferentes por razões que as tornam únicas
Se deslocas diferentemente por peculiaridades de cada meio de locomoção.
E eu não sou dissertação.
Eu falo contigo.
A propósito:
-Olá! Tudo bem com você?
-Como vai sua vida? Sua família e seus sonhos estão bem?

Sou texto atrevido
Bulindo contigo
Tento te ensinar
A ler
A provar
Que leitura dinâmica
Não é comigo
Não é para tirar de mim uma informação
Não sou notícia
Não sou 2+2
Daqui há um tempo o resultado será diferente
Eu mudo contigo
Eu grito sentido
Que sua mudança
Sempre mexe comigo.

Quando puder me conta que aprendeu
Volta aos amigos meus
Dá uma nova chance
Eles não são dissertação
Não são postulados
Nem notícias nem tratados
Nem receitas ao quadrado
São Romances escrachados
Escondidos
Amostrados
Esconde esconde
Sombreados
Tinta pinta
Quase blindados
Fáceis ou difíceis
Desacelerado
Divaga de novo
De-sa-ce-le-ra-do
Matura na mente
Barril preparado
Mensagem chegou
Texto bem fatiado
Morde forte um bocado
Sabores apreciados

Um dia com nojo
Um dia travado
Aceito o lixo
Serei abortado
No meio
Começo
Ao fim só afago.
Merecer ser lido
Já sou premiado
Feliz é o texto
Hoje, decifrado
Rico de sentido
Amanhã recomeça
Exclama o Assis e o Machado.



Francisco Braz Neto(27/11/2018)











sábado, 17 de novembro de 2018

Exclusivamente exclusivo

Todo mundo ou quase todo mundo
Tudo ou quase tudo
Qualquer um ou quase qualquer um
Um qualquer ou quase qualquer
Sorri
Recebe sorrisos
Abraça
Recebe abraços
Fala
Recebe falas
Acaricia
Recebe carícias

Entra e sai

O exclusivamente exclusivo é querer Um

Um
Que não seja Um qualquer
Um
Que não seja qualquer Um

Todo mundo ou quase o mundo todo
Sempre é mundo
Por vezes imundo
Moribundo
Fundo, fundo, fundo...

Lima, sofre, sua
Essa coisa à toa
Faz a vida boa
Coxa, boca, doa

Exclusivamente exclusivo é ser Cru

Cru verdadeiro
Ser por inteiro
Errado e certeiro
Tua carne e cheiro
Atrito ligeiro
Teu seio anseio
Desliza e alisa
Mais um devaneio
Cama, mesa, colchão
Lençol, travesseiro

Exclusivamente exclusivo é ser Ser

O mundo todo ou quase todos
Sendo ou não sendo tudo
São possibilidades possíveis
Decididas nas respirações 
Decididas nas faltas de ar
Que todos têm
Ou quase todos

Exclusivamente exclusivo é admitir

Qualquer um ou quase qualquer um
Um qualquer ou quase qualquer
Coxa, músculos, mãos
Entra e sai
Ganha e perde
Rápido
Médio
Lento
Entra e sai
Traços
Amassos
Riscos
Bicos
Lábios, ouvidos
Roupa que cola
No corpo se enrola
Esquece a hora
Depois vai embora
Embora voltar
Dispense altar
Um olho no olho
Pele na pele
Vai denunciar

Exclusivamente exclusivo é segurar

A barra
Da saia
Da vida
Rojão
Solidão
Bunda
Trabalho
Arranhão
De unhas
De garras
De farpas
Agarra espinhos com a mão
Segura o muro e a ferida
A carne é tão atrevida
Aprende mais uma lição
Página envelhecida
Poeira, capa, tendão
Tensiona as cordas combalidas
As fortes guias de condução
Arames seguram o gado
Exclusivamente exclusivo é segurar coração.
Esse monte de cicatriz revelado
Segura, remonta, amparo
Exclusivamente exclusivo é ser belo no chão.


Francisco Braz Neto(17/11/2018)

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Palhaço por um palhaço

Admiro.
Quem?
Admiro o palhaço.
Ator de uma estirpe suprema
Faz verso e poema
Entra no esquema
Deixando rica a cena
Para sorrisos plantar

Palhaço de cara pintada
Também os de cara lavada
Que gente desconfiada
Insiste em lhes maltratar
Dia e hora marcada
Espetáculo vai anunciar

Que poder tem sua maquiagem?
Escorrega de mentira
Leva tapa
Finge briga
Entra em canhão
Chute no traseiro
Tudo ali no picadeiro
E nem cor de dinheiro
Protege seu coração.

Que poder tem sua mente?
No dia que perdestes tua mãe
Fostes tu fazer sorrir
A multidão a aplaudir
E você sem poder desistir
Pois até para ti
É tudo ao mesmo tempo.

Prepara tudo
Prepara o velório
Paga a funerária
Prepara tudo
Vivencia tudo
Teu luto tem hora para acabar
O espetáculo é às 16h e o outro às 18h
O enterro precisa ser rápido.
Tua mãe ensinou que o público não pode esperar
Que o circo não pode acabar
E você, palhaço, segue a risca o que sua mãe ensinou.

Palhaço!
És mais forte que todos os super heróis juntos.
O super homem não aguentou perder a namorada
Você vence vilões todos os dias
O coração deve amar como outro qualquer
Mas vai quebrado fazer sorrir
Vai lá sem deixar a peteca cair
Vai, apenas vai
Quando você tropeça
Risos
Quando você cai
Risos
Quando erra
Risos
Quando apanha
Advinha... risos e mais risos
Palhaço, palhaço, palhaço!!!
Ai, ai, ai...!!! Você me causou uma reflexão estranha.
Gente fica feliz quando vê gente triste, é isso?
Nem precisou ler livros, fazer universidade, só precisou do:
Professor palhaço e do palhaço professor

Palhaço!
Se plantas e colhes sorrisos não seria tua vida só de alegrias?
Aquela sua foto sorrindo era só maquiagem?
Era tudo junto
Ali sorriso casca
Ali sorriso filha
Ali sorriso fio de esperança
Ali dor
Ali sorriso pausa
Ali sorriso abraça
Ali de ti lembrou
Em tantos momentos disfarça
Ali algo faltou

O espetáculo diário se anuncia
Agora o relógio avisa
Ferve a água, arruma a pia
Banho tomado, café bebido
Todo santo dia
Com ou sem maquiagem
Ouvi uma melodia
E essa de borrar maquiagem
Só quando a noite escondia

De voz embargada conversas
Com sombras de ideias confusas
Palhaço vai logo, trabalha!
O boleto não tem empatia
Conta, conta estória
Trapalhão fez tua alegria
Passado de criança palhaça
Tão séria!
Não se permitia
Na fila do banco é homem
Na outra ninguém desconfia
É homem e sofre calado
Agora as luzes se apagam
Ninguém mais aplaudia
Teu rumo está sempre incerto
Inseguro na corda, tremia
Bamba
A corda e a vida
Nela todo dia subia
Na vida acorda de novo
Errando e abusando dela
Quem sabe ela me demitia?
Ensaia teu melhor sorriso
Hoje não tem terapia
A vida deu tapa nas costas
Vai casca, lembranças, agonia
Assim que alguém te olhar
De ti vai ter alegria.

Francisco Braz Neto(12/11/2018)

































sábado, 10 de novembro de 2018

O Vaso vaza

Vaso
Vazo
Vazou
Vazão
Vazar

Quebrado.
Tão quebrado!
Fraco!
Se fosse forte não quebrava.
Envergava, perdia as folhas por algumas estações, mas se fosse forte florescia e frutificava.

Fosse forte não vazava.
Seguramente segurava com segurança todas as dores.
Guardava no peito.
Trancava no fundo da mente, na cova profundamente cavada e lá no fundo do poço, revisitado com certa frequência, deixava.
Sabendo que deixou lá e esquecendo onde deixou sabe bem que lembra quando visita.
Visita o fundo.
Do poço.
De si mesmo.
Das lembranças.
"De tudo que vivera até ali."

Fraco.
Quatro décadas.
Vergonha!
Tivesse século na vida.
Vitimista.
Vaso.
Vazo.
Curioso não esvaziar.
Como pode?
Vaso vazando deveria ser vazio.
Vive cheio.
Cheio.
Cheio.
Cheio.
Nem bota exclamação.
Só cheio e pontos finais.
E além de cheio, vaza.
Além de cheio, transborda.
Vaso que transborda pelos olhos.

Vaso que vaza e segura.
Não. Negativo.
Vaso que vaza até pode encher, mas como ser cheio um vaso tão quebrado?
Parece que colam os pedaços.
Parece que o Vaso se remenda para segurar o que aguenta e vazar o que não suporta.
Oh, Vaso! Eu te entendo. Acho que entendo.
Mal fostes fabricado, começaram a te quebrar.
Oh, Vaso! Eu te entendo. Acho que entendo.
Mal viram seus pedaços colados acharam que eras um quebra-cabeças.
Divertido é jogar o Vaso ao chão e quando em pedaços pequenos estiveres, por sapatos protetores e pisar por cima.
E aí começa tudo de novo, mas não é do zero é do pedaço.
Olha para o chão. Quando se olha para aquela bagunça, pedaços aos milhares, talvez aos milhões, quem ousa montar o quebra-cabeças?
A vontade que dá é vassoura e pá.
No lixo jogar.
Vaso.
Vaso sanitário.
Vaso que vaza, transborda, extravasa
Um dia o Vaso acaba
Vazando, sangrando, se apaga.

                           Francisco Braz Neto (10/11/2018)


















Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.