sábado, 10 de novembro de 2018

O Vaso vaza

Vaso
Vazo
Vazou
Vazão
Vazar

Quebrado.
Tão quebrado!
Fraco!
Se fosse forte não quebrava.
Envergava, perdia as folhas por algumas estações, mas se fosse forte florescia e frutificava.

Fosse forte não vazava.
Seguramente segurava com segurança todas as dores.
Guardava no peito.
Trancava no fundo da mente, na cova profundamente cavada e lá no fundo do poço, revisitado com certa frequência, deixava.
Sabendo que deixou lá e esquecendo onde deixou sabe bem que lembra quando visita.
Visita o fundo.
Do poço.
De si mesmo.
Das lembranças.
"De tudo que vivera até ali."

Fraco.
Quatro décadas.
Vergonha!
Tivesse século na vida.
Vitimista.
Vaso.
Vazo.
Curioso não esvaziar.
Como pode?
Vaso vazando deveria ser vazio.
Vive cheio.
Cheio.
Cheio.
Cheio.
Nem bota exclamação.
Só cheio e pontos finais.
E além de cheio, vaza.
Além de cheio, transborda.
Vaso que transborda pelos olhos.

Vaso que vaza e segura.
Não. Negativo.
Vaso que vaza até pode encher, mas como ser cheio um vaso tão quebrado?
Parece que colam os pedaços.
Parece que o Vaso se remenda para segurar o que aguenta e vazar o que não suporta.
Oh, Vaso! Eu te entendo. Acho que entendo.
Mal fostes fabricado, começaram a te quebrar.
Oh, Vaso! Eu te entendo. Acho que entendo.
Mal viram seus pedaços colados acharam que eras um quebra-cabeças.
Divertido é jogar o Vaso ao chão e quando em pedaços pequenos estiveres, por sapatos protetores e pisar por cima.
E aí começa tudo de novo, mas não é do zero é do pedaço.
Olha para o chão. Quando se olha para aquela bagunça, pedaços aos milhares, talvez aos milhões, quem ousa montar o quebra-cabeças?
A vontade que dá é vassoura e pá.
No lixo jogar.
Vaso.
Vaso sanitário.
Vaso que vaza, transborda, extravasa
Um dia o Vaso acaba
Vazando, sangrando, se apaga.

                           Francisco Braz Neto (10/11/2018)


















Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.