quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Entre a Cruz e a Espada


Para muitos sou um crítico voraz. Pessimista convicto.
Não temos memória. Nem visitar os parentes que já se foram é parte da nossa cultura. Nossos cemitérios são lugares de tristeza absoluta e os evitamos. Afinal de contas, para que ir ver mortos em um lugar se podemos ver mortos em todos os lugares? Sendo repetitivo ao extremo como também são as mazelas do Brasil, temos os mortos literalmente falando e os mortos vivos. Até aproveito para perguntar: -A origem dos zumbis foi no Brasil? Não tem graça. O que mais se assemelha a ter graça neste tipo de abordagem é a ironia escancarada. E ela vem ao texto para desabafar e evitar que palavras chulas entrem.

A questão central aqui é a passividade. As questões que estão ao redor são muitas. Uma analogia feita entre uma estrela, os planetas e demais corpos na composição de um sistema solar e a sonolência de toda uma população e todas as consequências advindas desta. Aí entra o sentir-se esmagado, sufocado, oprimido, Entre a Cruz e a Espada.

A passividade, a letargia, a dormência são palavras que ganharam dimensões destruidoras. O primeiro teste proposto é começarmos conosco. Eu me incluo. Nada de dois pesos e duas ou até infinitas medidas. Quantas vezes fazemos críticas reflexivas? Você está no time dos que não se arrependem de nada, apenas do que não fez? No time dos que não tem vergonha? No time dos que colocam os erros em um altar, pois só com eles se aprende? Quantos outros chavões prontos você está utilizando? Dentre eles você inclui a crença na qual não se pode falar nada de negativo sobre seu país, seus familiares, seus amigos e aquilo que é seu?

Eu me arrependo de tantas coisas e principalmente das que fiz. Não fazer, para mim é probabilisticamente muito menos passível de arrependimentos. Vejamos como a retórica funciona para ambos os lados. Quem só se arrepende do que não fez por acaso pode me explicar se costuma incluir na seqüência do raciocínio frases do tipo:
"-Me arrependo de NÃO ter matado?
-Me arrependo de NÃO ter roubado, espancado, destruído e torturado?
-Me arrependo por NÃO ter estuprado, extorquido, iludido, decepcionado e mentido?"
Dá para explicar?

Me colocando na berlinda. Eu me envergonho. Me olho no espelho e todos os dias sei que posso e preciso melhorar o ser humano que está refletido. De bom? Sentir orgulho por não ser um SEM VERGONHA. São  34 anos de muita reflexão e o fato de ter escapado da morte por pelo menos 3 vezes aumenta e muito a dimensão de tudo. O que é bom não é bonzinho e o que é ruim não é ruinzinho. A vida é curta, mas daí a usar isto para ser irresponsável e descompromissado é outra estória. Se fazer algo para um mundo melhor não vale a pena por você, faça por seus filhos, amigos, sei lá, encontra alguém para justificar algo bom e menos motivos para não fazer nada.

E a questão principal é a passividade. Passividade capaz de vir como uma espada penetrante, insistente e escancaradamente presente nas palavras de cada um que eu conheço e fala e fala e fala e fala e fala e ...     "-Você viu o último escândalo? Que absurdo!
-Leu na internet sobre as chacinas? Que absurdo!
-Viu a quantidade de buracos nas ruas? Que absurdo!
-E as balas perdidas? Que absurdo!"
Quando absurdos acontecem o que se faz a respeito? Se espera a próxima eleição. Certo?
O próximo absurdo?

A Cruz vem gigante para ser carregada e acaba que a população de toda uma nação a carrega. Eu cheguei ao dia de hoje com uma quantidade tão grande da balela: "o brasileiro é um povo feliz apesar de ... tudo." Eu que tanto peço favores. Deixa eu pedir mais um? Olha a matéria do Diário de Pernambuco sobre o consumo de Rivotril. Caso seja assinante está aí o link que leva até a edição do dia 22 de janeiro de 2012: http://www.old.diariodepernambuco.com.br/2012/01/22/indice.asp
Se não quiser saber tanto sobre a matéria, ou não conseguiu ter acesso, o Rivotril é um antidepressivo que juntamente com outros antidepressivos, também conhecidos como tarja preta, estão entre os remédios mais comprados pela população brasileira.
O que isto quer dizer?
Eu sei bem.
Vai uma ironiazinha para aliviar, quem sabe para substituir o Rivotril de algum de nós hoje? Se o consumo recorde é de um antidepressivo é por termos atingido o máximo da felicidade sem remédios e agora vamos ver qual o limite com essas drogas. Será? Faz sentido?

Fazer sentido. Fazer sentido é uma necessidade minha. Você compartilha desta necessidade? Para viver sei que precisamos, comer, beber, respirar, dormir ou então fatalmente morremos. Individualizando as necessidades, eu preciso da lógica, da coerência. E a coerência entra agora para retomar a questão de falar mal do próprio país, dos amigos, dos familiares, da sua rua, da sua casa e toda e qualquer coisa sua. Falar mal já é uma coisa positiva em comparação a indiferença. É também o que se faz naturalmente quando se quer bem a alguém, senão vejamos:
1) Quando os nossos pais estão com uma mancha na roupa, falamos ou calamos?
2) Quando um amigo está prestes a se machucar, tropeçar ou cair, falamos ou calamos?
3) Quando os pneus do carro do(a) amigo(a) está careca ou descalibrado, ignoramos?
4) Se o(a) namorado(a) está com a roupa rasgada, deixamos para lá?
5) Se após comer pipoca ou feijoada a irmã ficar com algo preso nos dentes, ficamos indiferentes?
6) Quando as ruas da cidade onde moramos estão sujas e esburacadas, tudo bem?
7) Ao saber de mais um desvio de verba, magicamente transformamos o fato em algo bom?

E aí, quantos argumentos, quantas perguntas, quantas reflexões preciso escrever para sair da Cruz e retirar a Espada de mim?
Quais as respostas que cada um dá para essas perguntas?
Eu conheci essa sensação de estar esmagado entre a Cruz e a Espada quando amigos estrangeiros começaram a me apontar como o mais patriota e mais nacionalista dentre todos que eles conheciam. Aí vem os brasileiros me apontar como o que menos gosta do Brasil.
Aí eu paro. Aqui eu termino. Amar o Brasil não é dizer que ele é lindinho, lindão, perfeitinho, perfeitão e colocar as sujeiras debaixo de um tapetão.

Amar o Brasil é não usar um discurso mentiroso. É não ser indiferente. É avisar para o País como se nosso Pai fosse que ele está doente e precisa de cuidados. Mostrar que a roupa está rasgada. Amar o Brasil é saber cada vez mais sobre ele. É não esperar que o dinheiro cure o que só a Educação é capaz.

Falar mal não é desejar o mal. Falar mal que funciona tem na boa vontade de quem quer compreender o sentido de alertar.
Falar mal que incomoda muita gente é apontar um cenário tão feio, tão fedido, tão atrasado, tão injusto e tão violento que a vontade pode até ser que não seja verdade, mas abra os olhos, ouvidos e narinas, use os sentidos para então socorrer o país que ama. Caso você não ame o Brasil, está tudo bem.  















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Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.