quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Aprender: um verbo de Ação.


Falando sobre o que considero mito e o que acredito ser verdade sobre aprendizado.

Em 1995 eu comecei uma contagem e até o dia de hoje sigo com ela. Os dias, meses e anos que estão juntos na minha carreira de professor chegaram aos 18 anos. Quase duas décadas. Parece muito, contudo é menos do que a quantidade de anos em que fui aluno. Por me considerar um eterno aluno da escola da vida e aluno em potencial da forma mais tradicional, com sala de aula, professor, chamada e etc. Aí é que fica mais forte o peso dos argumentos e da visão do eterno aluno que por hora vos escreve. Acrescento ainda o fato de recordar de muitas coisas dos meus tempos de escola.

Agora vamos ver se há algum segredo para conseguir aprender seja lá o que for.
Curto e grosso. Rápido e rasteiro. Não. Com o uso correto e literal da palavra segredo não existe. O que existe então? Bem, vou enumerar vários caminhos para atingir o aprendizado, mas a obviedade será companheira. Três décadas como aluno e as seguintes observações ficaram cada vez mais sólidas.

Primeiro. Quer aprender? Comece. Que foi? Fez dã pra mim? Pro texto? Avisei que a obviedade seria companheira. Agora que você parou de me ofender em pensamento, gasta as energias para lembrar-se do monte de vezes ao longo da sua vida em que escutou alguém falando em fazer um curso. Inclua a si mesmo e aí vai ser mais produtivo. Ampliando o gasto energético, pense em quantas vezes as explicações para não começar passaram por questões financeiras, tempo, oportunidade e tantas outras razões. Então não vamos para o campo das lamentações e valoriza comigo esta obviedade. Começa, nem que seja sendo autodidata e passe para a parte dois.

Segundo. Quer aprender? Continue. Não desista. Que foi? Vai desistir, não é? De ler até o fim. Dã duplo. A obviedade segue, mas só com essas duas observações feitas ao longo da vida e incessantemente reforçadas, enquadro quase todo mundo. Meus alunos são, em sua grande maioria, sinceros e ao serem sinceros comigo fica melhor se ouvirem atentamente o que dizem. Eles dizem: “já comecei e parei milhares de vezes”. Guardemos os milhares para a área da metáfora e o começa, para, começa, para e de novo... literal. Está dando murro na mesa? Não consegue aprender mesmo estando fora dos dois pontos já expostos. Vai para o terneiro. Afinal, você não é de desistir. Quanto a você que se encaixa perfeitamente neste desiste, desiste, desiste eterno, o que sentes quando encontras com alguém que começou igual com você, era muito ruim, tinha dificuldades e agora ficastes sabendo que ele ou ela está muito bom? Vai para o terceiro para relaxar um pouco. Ficar se lamentando não fará você aprender nada novo. Lamentar já é um doutorado universal.

Terceiro. Quer aprender? Faça volume de horas de estudo. Quantas horas por dia? O máximo que der. Não o meu máximo, o seu.
Quantos dias por semana? O máximo que der.
Quantas semanas por mês? Advinha! 
Quantos meses por ano? Suspense!
Quantos anos? Peguei vocês! Não é o máximo que der e sim a quantidade que for necessária de acordo com o seu objetivo.
As perguntas dos meus alunos são tão repetitivas quanto um mantra é. Minhas respostas acabam sendo igualmente repetitivas. Aliás, a resposta para cada uma das perguntas deste terceiro tópico tem uma ligação com o objetivo de cada um. Na prática, quem precisa aprender, está numa pressão danada para conseguir e seja lá qual for a razão ficou no aprende ou se ferra e ainda por cima tem prazo estipulado, hum... acaba é virando CDF (sem explicações para a sigla, talvez pessoalmente, um dia que nos encontremos e você não saiba o que é).
Puxando para os alunos de idiomas. Essa de ter as aulas padrão, normalmente, em sua grande maioria, com dois encontros com o professor de 1h e 15 minutos ou um só de 2h, sendo que o aluno só abre o livro quando o professor pede e fecha na primeira oportunidade e só abre novamente na aula seguinte não tem muitas chances de dar certo. Dar certo pode até dar, mas demoooora.
Mito. Para aprender preciso ir para um país onde o idioma é o que quero aprender. O que é verdade e sinônimo do que estamos abordando agora? Volume! Poxa vida! Você é um brasileiro e acorda ouvindo uma rádio em inglês, assiste ao telejornal em inglês, vai trabalhar e ouve músicas em inglês no carro, no ônibus ou seja lá qual meio de transporte for, pergunta a todos os colegas quem é que fala inglês e depois que descobre fala sempre que pode com eles em inglês, chega em casa do trabalho e para relaxar vai ler um livro em inglês ou escutar músicas, dependendo do dia acessa um site em inglês, aprende  todos os dias palavras novas com um simples dicionário, tem condições de pagar um curso, tem condições de ter um professor particular e se o texto fosse só sobre as possibilidades mais um monte delas, você veria que uma pessoa desinteressada, mesmo num país de língua inglesa não vai aprender uma fração do que você vai. É legal ir para o outro país? Precisa responder. Não é? Digo aos meus alunos que sim. Repito: SIM! Mas não é obrigatório e nem causa problemas. Lá no outro país a chance é esmagadoramente maior de ter volume, você vai ter 24 horas por dia do novo idioma à disposição. Caso você não faça uso dessa oportunidade, você vai ter um resultado pífio.

Quarto. Quer aprender? Não tenha vergonha. A inteligência é algo magnificamente democrático, por sua vez o conhecimento mesmo que disponível não é consumido em grandes quantidades e nem por muitas pessoas. A maior desgraça desse desencontro? A inteligência sem conhecimento é o mesmo que um solo ruim com sementes boas, a produtividade é baixa. O conhecimento sem inteligência é o mesmo que uma arma de destruição em massa, eficaz ao que se propõe ao mesmo tempo em que é extremamente perigoso. No fim das contas receba de bom grado pelo menos este texto te dizendo: és inteligente! Meus alunos via de regra ouvem isso. Agora vão poder ler e reler.
Uma vez inteligentes se permitam aprender o novo. Aprender é um verbo de ação e não de estado. Aja e aprenderás, permaneças sem ação e nada ou quase nada vais conseguir aprender. Vergonha você manda para... deixa eu pensar... tic tac tic tac tic tac... faz de conta que se passaram algumas horas... Manda para onde você quiser. A vergonha é sua e nada mais justo você decidir para onde mandar.
Puxando para os alunos de idiomas. Isso é bem mais a cara deles. Eu sei como é. Você vai para uma turma e quando erra e sabe que na sala está cheio de gente que sabe mais que você aí a vergonha te invade. Para piorar são pessoas sem educação e começam a rir de você. Bem, aí puxo o problema para os teachers, se alguém falta com o respeito dentro da sala de aula o professor é o responsável. É uma questão que dá um livro pessoal. Educação não se encerra em um parágrafo, mas declaro solenemente que em meu histórico amplo e diversificado fui agredido por pessoas que se achavam os sabichões, os melhores e por isso fiquei doutor nessas situações. Queridos alunos, eu, em algumas das vezes tive motivos para nunca mais fazer perguntas em público, mas ao aprender a solicitar a um dos "sabichões" que explicasse o que eu acabara de perguntar, retornei ao mundo dos confiantes. Estou nos 100%, os "sabichões" estavam mais para energúmenos acéfalos. Dava para saborear o momento ao ver eles sem saber responder o que haviam acabado de ridicularizar. E depois do primeiro, as vezes pus para fora a lição de moral que na ponta da língua pedia para sair. Se tivesse observado um ou dez dando risadinhas, desafiava cada um a responder, imagina a pressão, se é tão ridiculamente fácil não é sabendo um pouco a respeito que dá para se livrar. Encerrando esta questão, nem se envergonhem e nem façam isso aos outros. Errar é ruim, mas falsos inteligentes são indizivelmente piores.
No caso de idiomas é o caminho do aprendizado na essência. Se você não se expõe, não fala, não escreve, não faz nada, como o professor vai saber o que precisa ser feito? Nem mesmo um aconselhamento vai poder ser dado além de: - você tem de se expor.

Quinto. Quer aprender? Use bons equipamentos, boas ferramentas e se isso não for possível, tente retirar o máximo do que estiver disponível. Meus alunos e as pessoas que me pedem conselhos sobre como aprender, qual o melhor curso de idiomas e afins, via de regra, me escutam fazer uma comparação entre estudantes e atletas. Um atleta com um grande potencial chega a conseguir bons resultados. Este mesmo atleta com os melhores treinadores, a melhor alimentação, com cuidados na preparação psicológica e tudo de melhor relacionada à sua modalidade esportiva vai virar uma lenda. Faça o mesmo em relação ao aprendizado. Procure o melhor livro, o melhor dicionário, o melhor professor, o melhor ambiente de estudo, a melhor gramática, a melhor cadeira, mesa e até mesmo o melhor lápis. Se não der para ter o melhor use o que tens ao máximo, esgote os recursos disponíveis. É mais ou menos assim: é melhor ter um dicionário com 8 mil verbetes e aprender 100% do que ele te oferece do que ter um que possui 500 mil verbetes e você só fez carregar este imenso e pomposo dicionário da livraria até a sua estante. Livro bom que você não usa e só faz juntar poeira em comparação com um livro ruim que você usa sempre, precisam trocar de adjetivos.
Outro ponto muito destacado por mim é a colocação do professor como apenas mais uma ferramenta. Digo sempre: - Eu sou tão ferramenta quanto um lápis! Sabendo me utilizar, tirando o máximo de mim vai fazer toda a diferença. Em conseqüência disto e sendo coerente com esta afirmação, mesmo tendo, ao longo dos anos, alunos que passaram em concursos e que conseguiram resultados muito almejados, o mérito é quase que todo deles. O lado que pode incomodar é que a responsabilidade do fracasso também recai sobre o aluno. Para citar exceções a este ponto coloco as crianças como diferentes.
As crianças precisam de um trabalho diferente e o mais importante ao falar delas é que os pais são fundamentais nesta equação. O professor tem de sair do papel de apenas ferramenta e ser muito mais. Meu início foi com crianças e com elas trabalhei por mais de uma década. Comecei um adolescente de 17 anos e parei um adulto cansado. Cansado de ser confundido com alguém que deveria assumir a educação de cada um dos meus alunos.

No lugar de contar uma dezena de histórias, vou tentar ser breve com uma. Fui chamado para dar aulas de matemática para um adolescente e logo-logo estava também trabalhando com o irmão mais novo dele. Eram filhos de pais separados. As aulas eram no apartamento da mãe e o nível sócio-econômico era bom. Eu sou e sempre fui muito disciplinador e exigente. Os meninos eram uns danados, mas quanto mais eu os colocava na linha, mais eles gostavam de mim. O que teve demais nessa história? Um dia o mais velho disse para mim que ele e o irmão gostavam mais de mim que dos pais deles. Eu ainda era novo e já sabia que não era verdade, que era preciso interpretar o pedido de socorro daquelas crianças. Dar limites para uma criança pode ser uma grande forma de amor. Agora deixo que vocês conversem mais aprofundadamente sobre isso com um psicólogo.
Muitos anos além daquele dia continuei a trabalhar com crianças, mas confesso a vocês que a história que acabei de contar foi difícil para mim, porém não foi a única.
Resumindo e recapitulando este tópico. A não ser que você seja criança, use sempre o melhor equipamento disponível e utilize-os ao máximo. Não caia no lugar comum de atribuir a culpa sempre a outras pessoas. Assuma sua parcela de responsabilidade no fracasso e aproveite para regozijar-se muito com o outro lado disto. Se conseguires aprender algo é você quem merece os parabéns.

Para terminar vou colocar uma questão que pode ser polêmica para alguns. Para outros um tabu e ainda pode ser uma verdade inconteste.

Criança aprende mais rápido que adulto.

Para mim é uma afirmação que tem muito eco. Ouço feito mantra. Escuto como se verdade inconteste fosse. No final das contas eu peguei esta afirmação, coloquei com um ponto de interrogação. Fiz uma enorme reflexão. Agora vos digo que não concordo não.
Quando sou eu que estou caladinho, só escutando como as crianças aprendem rápido e os quase milagres dos pequenos sei que envolve um certo orgulho dos pais, tios, avós e etc. Mas ao observar atentamente, ninguém que eu tenha escutado disse algo novo. Não tive a oportunidade de ouvir alguém com uma reflexão, mas sim com muita admiração.
Agora vejamos uma novidade a mais vinda deste que vos escreve, além da já mencionada discordância.
Alguma vez, ao comparar a velocidade do aprendizado de uma criança, já pararam para pensar quantas vezes, ou melhor, qual seria o placar se fizéssemos 10 pares, cada par sendo formado por uma criança e um adulto e marcando um ponto para quem vencesse? E quando fizerem esse exercício mesmo que mentalmente, já tomaram o cuidado de fazer isso a respeito de algo que fosse do zero?
Leitores, o exemplo que mais ouço é o do idioma, seguido de perto pela utilização das novas tecnologias. Quando os pais vão para outro país e os filhos aprendem rápido o idioma. Uma prima mega, hiper inteligente que tenho, certa vez me falou que está comprovado cientificamente que as crianças escutam melhor que os adultos, pois os adultos já possuem certa perda pelo passar dos anos. Aceito e concordo. Ela só não mencionou nada sobre se ao fazer a competição dos 10 pares essa melhor audição das crianças seria suficiente para superar a disciplina dos adultos, a quantidade de informações já armazenadas, a experiência, o conhecimento sobre si mesmo em relação a como rendem mais nos estudos e o quanto os adultos já sabem passar por obstáculos.  

Detesto injustiças e sobre coisas diferentes julgamentos diferentes. Sobre as novas tecnologias que escreva alguém mais jovem se as crianças ganham deles. Mas precisa que seja jovem o suficiente para saber o que é nascer numa época em que já existia tudo que as crianças têm hoje.
Mantendo a questão da injustiça. Por que dizer que as crianças aprendem mais rápido em comparação aos adultos se não é dada ao adulto a chance de não ter que se preocupar com contas, com o cuidado das relações com amigos e familiares, com os desgastes do trabalho, com a energia gasta em um relacionamento amoroso e muito mais.
Sendo justo com as crianças devemos admirá-las. Sim, são fascinantes e é ótimo observá-las em seu aprendizado em massa. São folhas de papel em branco prontas para aprender tudo em um processo que nunca termina. Não esqueça que você já foi uma e nem por isso parou de aprender.
Para terminar, dê igualdade de condições em tudo que for possível e se quiser continue apostando nas crianças, mas eu aposto nos adultos.

Alguém faça uma pesquisa séria sobre isto, por favor. Enquanto não fazem, reflitam sobre esta igualdade de condições.

Um comentário:

  1. Primo, só consigo definir seu texto com uma palavra: Sensacional! Parabéns! Abração!

    ResponderExcluir

Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.