quarta-feira, 6 de junho de 2018

Solidão Absoluta

O que seria? A metafórica?
Não.
Por que seria? Por escolha?
Não.
Quem saberia? Os melhores amigos e familiares?
Não.
Como seria? Sendo um náufrago numa ilha deserta?
Não.

Só.
ÃO
Sozão.
Só.
INHO
Sozinho.

Conseguindo escutar os sons de cada pensamento como passos de sapatos bem barulhentos.
Recebendo visitas de reflexões e memórias, sem horário marcado, batendo como martelos de uma reforma sem fim.
Parede. Paredes. Teto e piso. Quatro paredes, teto e piso. Piso. A Solidão Absoluta pisa.

O que seria?
Ser humano sem nenhum outro humano ser presente. Ser humano sem escape, sem fuga e nessa prisão dia após dia é solitária a estadia. Só, por causa de não ter emprego e não vê colegas de trabalho. Só, pois não é mais estudante e não tem colegas de estudo. Só, pois mesmo que tenhas aulas e colegas de trabalho e de curso, ao final das aulas ou do trabalho só vão restar ausências de seres.

Por que seria?
Um dia você fica só pela primeira vez. Nem liga e até acha bom a novidade. Antes desse dia pode ser que até tenha sonhado com uma chance de se curtir. Depois vê que é bom e quer escolher outros dias para ficar só. Na Solidão Absoluta você fica só um dia e o dia seguinte também, depois você vê que já se passaram algumas semanas e não acha graça da brincadeira. No manual da vida não te avisaram que seria assim. Solidão Absoluta quando se é criança, adolescente, jovem adulto, adulto, idoso ou nos últimos momentos da vida, enfim, em nenhum momento presta. Seria uma doença? Realmente não sei. A questão é: em sendo doença, tem cura? Depois de anos de Solidão Absoluta, é tarde demais?
Quando o que resta são escombros e cansaço, como arrumar? A Solidão Absoluta persiste dia e noite. No período da noite os pensamentos caminham, tropeçam, esbarram, caem, derrubam, escorregam, machucam e se machucam. Depois de algumas noites a mente pode estar tão bagunçada que não tem como arrumar. Até durante o dia os pensamentos começam a passear por essa casa desarrumada que nossa mente se transformou e também esbarram em tudo. A casa desarrumada se torna o único referencial de normalidade. A Solidão Absoluta vira a companhia mais constante. Como náufrago, resta criar alternativas para um mínimo de conforto mental. Uma conversa virtual, mais uma conversa consigo mesmo, um livro, um vídeo, alguns momentos diante da televisão e assim por diante. Qualquer forma de enganar a mente, dar uma tapinha nas costas e dizer que vai ficar tudo bem. Tudo vai ficar bem, basta você viver o suficiente para isso.

Quem saberia?
Você não sabe quem sabe e imagina que todos sabem. Todos que te falaram que se importam, que te amam e que você poderia contar com eles para tudo sempre que você precisasse. Você pode ter passado pela também assustadora, Solidão Acompanhada, alguém que estava dividindo rotineiramente o interior das paredes, mas te deixava só, em desamparo e ainda assim não percebia que estava deixando você tão ilhado e após esse período retornar para a Solidão Absoluta. Bem, via de regra, sabe de nós quem procura saber, quem se importa, quem ama além das palavras, quem ama por verbo e por ação.

Como seria?
Só lágrima. Seca. Reabastece. Só lágrima. Seca. Reabastece.
Faz um monte de coisas que a vida de qualquer ser vai ter.
Se esforça para lembrar de algum dia ou momento em que desejou ficar só, uma vez que tem uma abundância de solidão.
Só lágrima. Seca. Reabastece. Dá uma risada. Seca. Reabastece.
Não tem outra saída. Precisa dar uma estafa para o cérebro. Seca. Reabastece.
Chora seco. Sorri. Escuta soluções prontas. Escuta receitas infalíveis. Reflete.
Escuta. Escuta. Receitas infalíveis. Soluções prontas.
Abastecido de lágrimas e mágoas segue. Reflete.
Só lágrima. Seca. Música. Reabastece. Melodia. Nó na garganta.
Fracasso minunciosamente escolhido. Fracasso de grife.
Fracasso elegante. Fracasso internacional. Prada! Gucci! Louis Vuitton!
Soluços. Solução.
Raiva! Revolta!
Confusão.
Solidão Absoluta não é metáfora para multidão.
Você fecha o olho, está sozinho.
Acorda e ninguém segura tua mão.
Você reconhece as paredes, o teto e o chão.


Francisco Braz Neto(06/06/2018) 















Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu sou o fotógrafo!

Eu sou o fotógrafo!
Essa foto me enche de orgulho. Eu acho que ficou perfeita.